4 de novembro de 2010

Bate-papo com Marclino Freire y Ferréz

Conversa literária


Os autores Marcelino Freire (Prêmio Jabuti de Literatura, em 2006, na categoria contos), Alejandro Reyes (escritor mexicano, que vive no Brasil desde 1995, e é mestre em Estudos Latino-Americanos) e Ferréz (romancista, contista e poeta que tem como tema principal a periferia das grandes cidades) se reúnem para um bate-papo literário no Centro Cultural b_arco. Após o encontro, Alejandro Reyes vai autografar o romance “A Rainha do Cine Roma” (Editora Leya).
serviço
o quê: Bate papo com Marcelino Freire, Alejandro Reyes e Ferréz
quando: 4 de novembro, às 19h30
onde: Centro Cultural b_arco
endereço: Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426 – Pinheiros
telefone: (11) 3081-6986
entrada: gratuita
informações: http://www.obarco.com.br/

3 de novembro de 2010

A Rainha no Soterópolis

Publicado no Blog do Soterópolis.

Como falar das ruas e suas crianças abandonadas sem cair nos clichês? Este, suponho, deve ter sido o maior questionamento do escritor Alejandro Reyes ao se debruçar sobre esta realidade.

Mexicano, ativista social, participou do movimento zapatista, rodou pelo mundo e aportou em Salvador. Aqui, foi fisgado pela beleza do lugar e pela pobreza revelada em muitos cantos da cidade.

No livro A Rainha do Cine Roma, primeiro romance de Reyes, o escritor cria para si o maior dos desafios: escrever sobre uma realidade desconhecida, pois não pode negar a sua condição de estrangeiro, e narrar os acontecimentos a partir de um lugar de fala de um garoto de rua.

“Enfim, pra mim foi um desafio superar a fronteira lingüística por que sou mexicano, o português não é a minha primeira língua e estou escrevendo usando a linguagem das ruas. O meu grande desafio foi pegar esta linguagem e fazer alguma coisa literária com ela” explica.

O romance, nascido nas ruas da cidade de Salvador, teve a sua primeira tiragem lançada em Portugal no ano de 2009. É lá que Alejandro é contemplado com o prêmio Leya, importante por dar visibilidade aos escritores independentes. Somente em 2010, o livro é lançado em Salvador.

Deslizando num terreno perigoso, onde muitos e importantes escritores já se aventuraram, ele afirma que é preciso ter coragem para falar deste mundo. Na sua literatura há espaço para falar do tempo presente, de uma realidade híbrida, onde as rupturas das divisões rígidas de papéis sociais não cabem mais.

Homem das letras engajadas, o escritor sabe que a literatura deve ter um comprometimento com a realidade social, sem levantar bandeiras, mas sem deixar de ter uma função social que é “fazer questionar sobre coisas que muitas vezes não vemos, e, nesse caso, o Rainha do Cine Roma levanta questões sobre uma população invisibilizada pela sociedade” encerra.

Ficha Técnica:
Título: A Rainha do Cine Roma
Autor: Alejandro Reyes
Formato: 16×23 Brochura
Nº de páginas: 296
Preço: R$ 39,90
Clique aqui para comprar o livro.

2 de novembro de 2010

Lançamento no Sarau Bem Black - Salvador

Publicado em Gramática da Ira


A Rainha do Cine Roma
do mexicano Alejandro Reyes

O romance "A rainha do Cine Roma" traz a história de Maria Aparecida e Betinho, crianças que se conhecem nas ruas de Salvador e que, unidas pelo sofrimento e pela amizade, atravessam os duros dias de uma vida de abandono.

Robson Véio, Alejandro Reyes e eu (Nelson Maca)

Passamos alguns dias muito bacanas com Alejandro Reyes, incluindo visitas ao Sarau Bem Black e ao ensaio do grupo Este Tal Recital (Sarau Bem Legal). Lançamos o livro "A rainha do Cine Roma" num clima altamente positivo que contou com a exibição do documentário "A música é a arma" - sobre o nigeriano Fela Kuti - e também um bate papo emocionante sobre zapatismo e processos de autonomia social com o próprio Alejandro e com nosso irmão Robson Véio.

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Alejandro Reyes & Claudia (México)com crianças do grupo Este Tal Recital (Sarau Bem Legal)

Agora, o romancista está em São Paulo. Amanhã ele lança "A rainha..." no templo da Cooperifa, com meu grande amigo Sérgio Vaz e seus warriors. Na quinta participa de evento ao lado de Marcelino Freire e depois na Suburbano Convicto do Bixiga (com o Buzo, Marilda e Tubarão... só gente boa e nossa!)

É isso: uma corrente difícil de quebrar!

Com Respeito,
Nelson Maca - Blackitude.Ba

A Rainha no Sarau da Cooperifa

QUARTA-FEIRA É DIA DE SARAU DA COOPERIFA


"O Sarau da Cooperifa é quando a poesia desce do pedestal
e beija os pés da comunidade. "
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Sergio Vaz
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SARAU DA COOPERIFA
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Lançamento do livro
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"A Rainha do cine Roma"
do mexicano Alejandro Reyes
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Quarta-feira 3 novembro 20hs45
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Bar do Zé Batidão
Rua Bartolomeu dos Santos, 797
Periferia-SP
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*O romance A Rainha do Cine Roma
A Rainha do Cine Roma traz a história de Maria Aparecida e Betinho, crianças que se conhecem nas ruas de Salvador e que, unidas pelo sofrimento e pela amizade, atravessam os duros dias de uma vida de abandono

25 de outubro de 2010

Sarau Bem Black lança livro do mexicano Alejandro Reyes

Publicado em Gramática da Ira
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Noitada no Sankofa African Bar, na quarta (27/10),
terá debate, exibição de doc. de Fela, muita poesia
e a música de Jimi Hendrix


O escritor mexicano Alejandro Reyes lança o livro A Rainha do Cine Roma (LeYa) na próxima quarta (27/10) durante edição especial do Sarau Bem Black, evento do Coletivo Blackitude que acontece todas as quartas, no Sankofa African, Pelourinho. O autor, que morou em Salvador na década de 90, volta à cidade para apresentar seu primeiro romance, cuja trama se passa nas ruas de cidade e explora o cotidiano de meninos de rua, assunto com o qual se tornou familiar a partir da experiência de trabalho com menores em situação de risco. O livro será vendido por R$ 25, 00 durante o evento.

Além da sessão de autógrafos, Alejandro participa de bate papo e é convidado especial do Sarau Bem Black. A programação, gratuita, começa às 18h, com exibição do documentário “A Música é a Arma” sobre o músico e ativista nigeriano Fela Kuti. Após o filme, que será comentado por Nelson Maca, Alejandro Reyes fala sobre o movimento mexicano zapatista: suas ações revolucionárias indígenas e suas propostas para a construção de uma nova sociedade. Também participa do papo o ativista político e músico Robson Véio (ex-Lumpen), que traz a conversa para esferas cotidianas e locais através de suas experiências em iniciativas como o Passe Livre e Mídia Independente.

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Das 20h30min às 22h, o Sarau Bem Black segue a normalidade de sempre: abertura com os rappers Rone Dundum & Lázaro Erê , do grupo de Opanijé, com a música Encruzilhada, cujas imagens e sons referências a Exu abre os caminhos da noitada poética. Na sequência, sobem no tablado as poetas mirins Luiza Gata e Lucinha Black Power, além de outras crianças do grupo Este Tal Recital, convidadas especialmente para receber o romancista Alejandro Reyes.

Por fim, Nelson Maca, Iara Nascimento e Lázaro Erê, mestres cerimônia do sarau, declamam e abrem os microfones aos poetas da platéia, um dos momentos mais esperados e surpreendentes da noite. Ao final, Lázaro Erê e Rone & Dundum fecham a noite com mais um rap autoral. Tudo isso será introduzido, comentado e ambientado pelas vinhetas musicais do DJ Joe que, a cada evento, homenageia um artista ou grupo da música negra. Nessa edição especial, o escolhido é o norte-americano Jimi Hendrix.


O romance A Rainha do Cine Roma

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A Rainha do Cine Roma traz a história de Maria Aparecida e Betinho, crianças que se conhecem nas ruas de Salvador e que, unidas pelo sofrimento e pela amizade, atravessam os duros dias de uma vida de abandono.

A narrativa do livro é feita em primeira pessoa, através de Betinho. Morador de rua desde os sete anos - sobrevivendo de pequenos furtos e michês – ele fugiu de casa para escapar da violência imposta por seu padrasto. Vagava pelas ruas da Cidade Baixa, sempre sozinho, até se deparar com Maria Aparecida, uma pequenina e frágil garota de dez anos que sofre uma drástica mudança na vida após a morte da mãe e decide fugir de casa. Vítimas de abusos por parte dos pais, Maria Aparecida e Betinho passam a viver em um cinema abandonado: o Cine Roma. E, apesar de todo o suplicio que lhes é imposto, os dois constroem um forte laço capaz de resistir a tudo.

Reflexões sobre temas negligenciados pela sociedade, como abuso sexual, drogas, homossexualidade, AIDS, prostituição, preconceito racial, violência física e o abandono estão presentes nas 296 páginas do livro. Chama atenção dos leitores para um universo sujo e cruel, que é imposto àqueles que estão, desde muito cedo, às margens da sociedade. A Rainha do Cine Roma retrata a vida de quem vive nas ruas, o submundo ignorado pela população de “bem” e pelos governantes. É uma bela história sobre a esperança de duas crianças, maltratadas pela vida e pela circunstância, mas que nunca deixaram de acreditar que, um dia, poderiam ser amadas de verdade.


Bate-papo

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O lançamento do romance será antecedido de um bate-papo sobre as razões e ações do movimento zapatista e da autonomia possível nas práticas sócio-culturais cotidianas. A mesa contará com Alejandro Reyes (Chiapas-México), Robson Véio e Nelson Maca (Salvador). “A idéia é fazer uma síntese histórica do afrobeat e da atuação política de Fela Kuti, um panorama do movimento zapatista, sobretudo frisando como ele se torna uma revolução interna que redimensiona a esquerda tradicional graças ao componente indígena, e também com se dissemina pelo mundo”, explica Nelson Maca. Todos falam de experiências vinculadas numa rede cada vez mais ampla de resistência contra o sistema capitalista. Serão lembradas propostas e práticas de autonomia em territórios em rebeldia - construção de sistemas autônomos de educação, saúde, governo, justiça, mídia, arte, produção e comércio. Questões étnicas e identitárias, sem dúvida, serão a base das ações e reflexões da noite.


SERVIÇO

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Evento: Sarau Bem Black
Quando: quarta-feira (27/10), das 18 às 22h
Onde: Sankofa African Bar (Pelourinho)
Entrada franca

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Alejandro Reyes

Alejandro Reyes nasceu na cidade do México, é jornalista e escritor. Depois de viver nos Estados Unidos e na França, mudou-se para o Brasil, onde trabalhou com crianças e adolescentes. É mestre em Estudos Latino-Americanos pela Universidade da Califórnia e doutorando em Literatura Latino-Americana, com tese sobre a literatura marginal. É ativista e membro do coletivo de mídia alternativa Rádio Zapatista.

Robson Véio

Artista vegan e produtor cultural, teve suas primeiras experiências culturais ainda em tenra idade no bairro onde morava, Castelo Branco, onde organizava almoços coletivos, campeonatos esportivos, sessões de filmes, fanfarra, festas etc... Já realizou turnê por vários estados brasileiros fazendo palestras e tocando em eventos de grande relevância dentro da cena independente como o Festival Hardcore, a Verdurada, Carnaval Revolução, a ocupação Chiquinha Gonzaga etc... Atualmente escreve para seu blog pessoal além de atuar nos Coletivo Arterisco, Blackitude, Positivoz, no Sindicato dos Comerciários de Salvador e prepara-se para gravar seu primeiro trabalho solo baseado na linguagem do RAP.

Contatos: blackitude@gmail.com

15 de outubro de 2010

Perdidos

Publicado em: Blog de Leonardo Sodré

Paulo Correia
Jornalista
ph-correia@uol.com.br

“Mas você me prometeu que pagaria um churrasco”. Essa frase eu ouvi faz uns três anos, em uma das edições do Carnatal. Ouvi quando estava saindo do corredor da folia, acompanhado de alguns amigos, e foi dita por uma garota que deveria ter no máximo nove anos. Estava suja, com os cabelos desgrenhados e usava uma camisa que cobria o seu corpo inteiro. Ela cobrava o churrasco de um homem de uns 35 anos, vestido com um abadá e que estava muito constrangido pela forma como a menina cobrava. Ele resmungava e dizia que não devia nada para ela, que ela fez porque quis. Esse momento nunca saiu da minha cabeça. Lembrei dele quando terminei a leitura de A Rainha do Cine Roma.
Escrita por Alejandro Reyes, um mexicano que desde 1995 vive em Salvador, a publicação conta a história de Betinho e Maria Aparecida, duas crianças que desde muito cedo sentiram na pele os absurdos da vida. Foram espancados pelos pais e padrastos, violentados sexualmente em suas casas, e tiveram que fugir desse mar de lama para tentarem não enlouquecer. Com a fuga, passam a viver nas ruas de Salvador.
Circulando entre o centro e a Cidade Baixa, vão encontrando tipos que toda cidade possui: os bêbados, as prostitutas, os travestis, os policiais espancadores, as doenças, e o pior de todos os males: a indiferença da população. Crescem nesse meio insalubre, aproveitando tudo o que a vida pode oferecer tanto para o lado negativo como para o positivo. A passagem dos anos é observada não pelo número de páginas viradas, mas pelo sofrimento que a metrópole lhes causa.
O livro, lançado no final de setembro, é um verdadeiro soco no estômago dos desavisados, mas um retrato fiel da juventude que mora nas ruas e que luta para manter a dignidade em meio a tanta sujeira e misérias da sociedade. Uma obra que merece a atenção de todos nós.
Uma obra que fala de tudo. De sexo, drogas, de AIDS, de amizades verdadeiras, de mesquinharias, de alegrias e tristezas. Que retrata uma Salvador onde os Capitães da areia se multiplicaram. Mas acima de tudo, que exibe a força do ser humano. Um livro que mostra que o amor e o carinho ainda conseguem viver.
Fica a dica de canto de página: A Rainha do Cine Roma

10 de outubro de 2010

A ponte entre o humano e a condição de animal

Publicado no Diário do Nordeste


O espaço dos grandes centro urbanos, como abrigo às transgressões sociais, de há muito já se inscreve nos diversos gêneros, quer da prosa, quer da poesia. A partir do surgimento da literatura moderna, isso se fez presente com mais intensidade, o que, de certa forma, contribuiu para dissolver certas crenças em paz e bem-estar

O foco narrativo é conduzido em primeira pessoa, a internalização da leitura da trama se justifica plenamente por estar ela entregue a um dos protagonistas, Betinho - já morava na rua desde a tenra idade de sete anos, alimentando-se de pequenos furtos até o embate com coisas mais terríveis. Até que conheceu, também nos cenários das ruas, Maria Aparecida - uma frágil menina que, aos dez anos, após a morte da mãe, decide fugir de casa, uma vez que, antes, sofre abusos sexuais no espaço doméstico. Eles - os protagonistas - passam a ocupar um cinema abandonado: O Cine Roma; passam, então, a corporificar aquela metáfora de Cruz e Sousa: "Os miseráveis e os rotos / são as flores dos esgotos". No entanto, mesmo com tanto suplício, são capazes, assim, de cultivar fortes laços.

Considerando as tendências por que se movem as narrativas de ficção na pós-modernidade, ainda que o ponto de vista interno seja, predominantemente, conduzido pela personagem Betinho, tal não implica ausência de inúmeras vozes narrativas, numa multiplicidade de focos:"Maria Aparecida falava uma coisa, falava outras, contava tudo quanto é história, a gente ficava sem saber o que era verdade e o que era invenção de sua cabeça." (p.22) Com isso, o narrador passa também a interagir com o falar dessa personagem, ao mesmo tempo em que, apanhando um episódio aqui, outro acolá, ora como que tece uma colcha de retratos, ora com que manuseia as pedras de um estranho quebra-cabeças, vai, pouco a pouco, construindo aquela personagem aos olhos do leitor, sempre com tintas precisas e fortes de realidade.

O espaço da trama é a cidade de Salvador, na Bahia, - e não como não fazer uma referência ao romance "Capitães d´Areia", de Jorge Amado, ainda que o tratamento do tema, a composição romanesca, a construção das personagens e, ainda, o manuseio da linguagem sejam absolutamente distanciados. Se em Jorge Amado, evolam-se momentos de lirismo, se sentimentos de comiseração, se certos alumbramentos se façam presentes, aqui, a linha é outra: frases incisivas, curtas, cruas, numa plena harmonia com a atmosfera a envolver os excluídos.

Uma nota que merece registro é, sendo o espaço uma cidade da Bahia, não faltam traços singulares à cultura do povo baiano, tanto relativos à culinária, ao vestuário, a crenças, ritos e mitos: "A noite está uma lindeza, a lua brilha lá no alto, iluminando a gameleira e a mangueira, e o riacho que passa por perto, e cá dentro tem bandeirolas e folhas e laços vermelhos e um bocado de filhos e filhas de santo vestidos com as roupas de Xangô, Iansã, Ogum, Oxu, Iemanjá". (p23) E não faltam os foguetes a iluminar as mais variadas iguarias da festa.

Nos tempos do "Cine Roma", eles vislumbravam uma vida de gente rica, abastada, embora não acontecesse muita coisa. Até já consideravam coisa muito grande que eles morassem em um castelo, sim, um castelo, ainda que fosse um castelo abandonado, fedido, cheio de ratos e de baratas, mas, enfim, um castelo, em nada parecido com aqueles barracos sustentados por papelão. Ainda mais podiam curtir a praia, os amigos, as aventuras pela cidade; as coisas somente não se imprimiam como uma maravilha dentro dos limites dessa maravilha, por conta dos acessos de loucura, de descontrole, que tomavam conta de Maria Aparecida - nessas ocasiões, quem sempre levava a pior era o narrador, a quem, com desdém, insultava-lhe a condição de homossexual e também de abandonado de todos.

Mais à frente, a trama sofre uma transformação, e os protagonistas vão, rigorosamente, enfrentar a vida nas ruas, agora na condição exata de pivetes. Ficaram quase um ano morando no largo do relógio de São Pedro, com a casa, agora, improvisada de papelão. Eles deixavam a vida correr, virando-se com pequenos delitos, a partir dos quais conseguiam alguns trocados para a comida. No entanto, muito conscientes de que a vida nas ruas é mesmo uma vida de cão: "De tanto o povo tratar a gente como bicho, a pessoa começa a achar que é bicho mesmo, começa a agir como bicho, fazer qualquer besteira sem pensar em mais nada". Atormenta-lhes a ausência da resposta: como não tornar-se realmente um bicho?" A trama mostrará.

CARLOS AUGUSTO VIANAEDITOR

28 de setembro de 2010

Obra retrata a realidade da vida nas ruas

Publicado em: Bahia Notícias

A editora LeYa lança “A Rainha do Cine Roma”, o primeiro romance do jornalista e escritor Alejandro Reyes. Uma comovente e fascinante história, que brilhou entre os finalistas do Prêmio LeYa em 2008 - evento que homenageia e estimula a produção de obras originais de ficção em língua portuguesa. O evento acontecerá nesta quinta-feira, dia 30/09, a partir das 18h30, na Praia dos Livros (Av. 7 de Setembro, 3564, loja 2 – Largo do Porto da Barra - Salvador).

9 de setembro de 2010

Debate e bate-papo marcam lançamento na UFSCar de romance escrito por jornalista mexicano

Universidade Federal de São Carlos

O romance "A rainha do Cine Roma" será lançado em São Carlos no dia 9 de setembro em evento que acontece na UFSCar. A obra é o mais recente trabalho do escritor e jornalista mexicano Alejandro Reyes, que reside em Salvador, desde 1995, após passar pelos Estados Unidos e França. O lançamento, com a presença do autor, será precedido de um debate com o professor Wilson Alves Bezerra, do Departamento de Letras (DL) da Universidade.

O mais recente livro de Reyes é ambientado em Salvador e tem o português como língua literária. O autor é mestre em Estudos Latino-Americanos e colabora em vários meios alternativos, reportando sobre movimentos sociais no México e Estados Unidos. Além do romance que foi escrito em 2008, o escritor mexicano publicou os livros de contos "Vidas de Rua", em 1997; "O Lacandón", em 1997; e "Contos Mexicanos", em 2004.

Na palestra "A linguagem do Cine Roma e seus deslocamentos", o professor Wilson mostrará o funcionamento da linguagem no romance, além de discutir o lugar da narrativa oral na literatura brasileira. O romance é narrado por Betinho, menino de rua desde os sete anos que conta, já adulto, suas aventuras e desventuras para sobreviver e suas tentativas de amar. Escrito em uma linguagem crua, o tom da narrativa oscila entre o agressivo e o sensível, produzindo um resultado bastante peculiar.

A palestra do professor Wilson e o bate-papo com o escritor Alejandro Reyes acontecem a partir das 17 horas, no Auditório do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) da UFSCar, localizado no edifício de aulas teóricas AT2, na área Sul do campus São Carlos. O evento é gratuito e aberto a todos os interessados, sem necessidade de prévia inscrição. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail espanhol.ufscar@gmail.com.

2 de setembro de 2010

Escritor mexicano Alejandro Reyes encontrou inspiração para livro na Bahia

Publicado em Correio Braziliense

Ronaldo Mendes

A RAINHA DO CINE ROMA Primeiro romance do escritor mexicano Alejandro Reyes.
Lançamento: Editora LeYa, 296 páginas. Preço médio: R$ 39,90

Reyes: 'Durante a escrita, passei horas andando pelas ruas, conversando com crianças, prostitutas e travestis' (Arquivo Pessoal
)
Alejandro Reyes levava uma vida com nível um pouco acima da realidade da maioria dos imigrantes mexicanos nos Estados Unidos. Tinha um emprego na área de informática e uma renda razoável. Mas algo não ia bem. Não era falta de dinheiro, o que ele precisava era de inspiração. Foi quando o inquieto escritor largou a aridez norte-americana e atravessou o Atlântico, onde ficou na Europa, “vivendo de trabalhos aqui e ali”. No entanto, não eram aquelas mesas de café nas ruas das cidades europeias que o inspirariam. Foi no clima tropical brasileiro que Alejandro se encontrou. “Nesse momento, tinha um romance fermentando na cabeça e quis procurar um lugar tranquilo para escrever. Escolhi a Bahia porque já tinha lido muito a respeito e tinha muito contato com o Brasil”, conta em entrevista ao Correio.

Era 1994. O plano inicial do escritor era permanecer pouco tempo, apenas o suficiente para terminar o livro. “Descobri na Bahia uma ressonância em mim... e terminei ficando uma década”. Por isso, quem lê a história de amizade, companheirismo, descobertas, dramas, perdas, violência e drogas presentes em A rainha do cine Roma, romance de estreia de Alejandro Reyes lançado pela editora LeYa, se impressiona com o preciosismo de cada cena descrita. “Durante a escrita, passei muitas horas andando pelas ruas, conversando com crianças, prostitutas e travestis”, lembra. “Por um lado, porque precisava entender melhor o submundo da noite, das drogas, da prostituição e do transexualismo. Por outro, porque escrevê-lo em primeira pessoa, na voz de um menino morador de rua, implicava num grande desafio linguístico.”

Submundo
A história de Betinho e Maria Aparecida é carregada de melancolia, mas também de uma alegria e esperança comuns às crianças. Com problemas familiares e sendo vítimas de estupro na própria casa, os dois vão parar na rua. Foi nesse ambiente escuso que eles se conheceram e onde se tornaram grandes amigos. O Cine Roma do título é um cinema abandonado onde os meninos vivem boa parte da trama. Nesse turbilhão, enfrentam traficantes, policiais, bandidos, moradores de rua e a exploração de cafetinas. Mas a narrativa de Alejandro não se limita às duas crianças. Personagens secundários aparecem e somem da trama, entrelaçando-se à história, que se passa numa Salvador talvez invisível aos olhos dos turistas — e até mesmo dos moradores. Retratar a pobreza com poesia, sensibilidade e, acima de tudo, mostrar o lado humano dessas pessoas é o grande mérito de A rainha do cine Roma.

Reyes: "Durante a escrita, passei horas andando pelas ruas, conversando com crianças, prostitutas e travestis"

Incrível também a capacidade que o escritor tem de “atravessar” as fases dos personagens centrais. Ao mesmo tempo em que conta a história das crianças, Alejandro passa ao leitor a sensação de que Betinho e Maria Aparecida envelhecem a cada página virada. Mas nada fora do contexto. Tornarem -se adultos, neste caso, não é obra da natureza, mas do meio em que vivem. Uma questão de sobrevivência.
Doutorando em literatura latino-americana com tese sobre a literatura marginal, Alejandro desenvolve diversos projetos ligados à área social. “A relação entre o ativismo e a literatura é complexa. Ambos implicam um compromisso com o nosso mundo e uma posição crítica perante a injustiça e a desigualdade”, defende. O escritor, no entanto, alerta para o risco de o trabalho ser visto de uma outra maneira. “Isso representa um risco para a literatura, que pode facilmente se tornar panfletária ou de bandeiras e punhos levantados”, analisa. Antes de A rainha do cine Roma, Alejandro havia lançado os livros de contos Vidas de rua e Contos mexicanos. Atualmente, o escritor vive no estado mexicano de Chiapas, desenvolvendo trabalhos com as comunidades indígenas.

TRECHO DO LIVRO
“Ficamos quase um ano morando no largo do relógio de São Pedro, nessa nossa casa improvisada de papelão, deixando a vida correr, se virando pra comer e ganhar uns trocados. Vida complicada nas ruas, sabe... Vida de cão. Mas, naquele tempo, a gente nem pensava muito na questão. Era o que era, só isso. Vide de pivete, vida de meninos de rua. A gente curtia, só fazia o que nos dava na telha e não tinha ninguém pra ficar dizendo o que podia ou não podia fazer. Mas passávamos por muita ruindade. Sempre ligados, sempre de olho pra ninguém fazer alguma merda com a gente, sempre com fome, sujos, fedidos. È coisa. E de tanto o povo ficar tratando a gente como bicho, a pessoa começa a achar que é bicho mesmo, começa a agir como bicho, fazer qualquer besteira sem pensar em mais nada. É o cão. Mas o mais difícil é ficar centrado, não perder a cabeça, não se meter em merda que não dá em nada que preste. É... o diabo é esse: como fazer pra não virar bicho. O resto... é resto...a gente vai driblando. Se conseguir não virar bicho...”

29 de agosto de 2010

Lançamento no Sarau do Binho

Publicado no blog do Sarau do Binho

LANÇAMENTO DO LIVRO "A RAINHA DO CINE ROMA" DE ALEJANDRO REYES

Nesta segunda 30-08-10 teremos a presença do escritor Mexicano Alejandro Reyes para lançamento de seu livro " A RAINHA DO CINE ROMA".



A Editora LeYa lança em agosto “A Rainha do Cine Roma”, o primeiro romance do jornalista e escritor Alejandro Reyes. Uma comovente e fascinante história, que brilhou entre os finalistas do Prêmio LeYa em 2008 - evento que homenageia e estimula a produção de obras originais de ficção em língua portuguesa.

“A Rainha do Cine Roma” traz a história de Maria Aparecida e Betinho, duas crianças que se conhecem nas ruas de Salvador e que, unidas pelo sofrimento e pela amizade, atravessam os duros dias de uma vida de abandono.

A narrativa do livro é feita em primeira pessoa, na figura do personagem Betinho: morador de rua desde os sete anos - sobrevivendo de pequenos furtos e michês - fugiu de casa para escapar da violência imposta por seu padrasto. Vagava pelas ruas da Cidade Baixa, sempre sozinho, até se deparar com Maria Aparecida, uma pequenina e frágil garota de dez anos, que sofre uma drástica mudança na vida após a morte da mãe e decide fugir de casa.

Vítimas de abusos por parte dos pais, Maria Aparecida e Betinho passam a viver em um cinema abandonado: o Cine Roma. E, apesar de todo o suplicio que lhes é imposto, os dois constroem um forte laço capaz de resistir a tudo.

Reflexões sobre temas negligenciados pela sociedade, como abuso sexual, drogas, homossexualidade, AIDS, prostituição, preconceito racial, violência física e o abandono, estão presentes nas 296 páginas do livro. Chama atenção dos leitores para um universo sujo e cruel, que é imposto àqueles que estão, desde muito cedo, às margens da sociedade.

É uma bela história sobre a esperança de duas crianças, maltratadas pela vida e pela circunstância, mas que nunca deixaram de acreditar que, um dia, poderiam ser amadas de verdade.

“Surpreendente e intenso, terno e violento, A Rainha do Cine Roma é mais do que um romance para leitores exigentes: é um verdadeiro hino à vida”. José Manuel Saraiva

“Quem tiver peito fraco, é melhor não tocar neste livro. Porque ele é duro, cru, verdadeiro. No entanto, no fim fica um fiozinho de açúcar, emoldurando uma réstia de esperança.” Pepetela, escritor e membro do júri do Prêmio Leya


O Autor

Alejandro Reyes nasceu na cidade do México, é jornalista e escritor. Depois de viver alguns anos nos Estados Unidos e na França, mudou-se para o Brasil, onde fez trabalho social com crianças e adolescentes de rua. É mestre em Estudos Latino-Americanos pela Universidade da Califórnia e doutorando em Literatura Latino-Americana, cuja tese incide sobre a literatura marginal.

21 de agosto de 2010

Narrativa do corpo e da fala

Publicado em O Estado de São Paulo

por Wilson Alves Bezerra

Saber como fala um personagem é haver descoberto um destino, dizia Jorge Luis Borges. A constatação é uma boa chave para ler o romance de estreia do mexicano Alejandro Reyes, A Rainha do Cine Roma, escrito em português. Houve um tempo em que 'dar voz' a personagens marginalizados implicava uma espécie de reconstrução fônica da fala que contrastava com a língua bem falada do narrador, em terceira pessoa, o 'estilo esquizofrênico', na definição de Antonio Candido. Aqui, a estratégia é outra: aquele que fala, e escreve, faz parte da história narrada - Betinho, um moleque de rua já crescido, que conta sua infância e adolescência em Salvador, dá voz à narrativa.

Para os leitores do Brasil, essa voz tem sabor exótico: a cadência de oralidade proposta, além do registro da fala nordestina, traz elementos da sintaxe do espanhol - língua materna do autor -, resultando em expressões algo inesperadas ('morrer feita churrasco', por exemplo). A impressão é a de uma língua inventada, que lhe rendeu o segundo lugar no prêmio do grupo português LeYa, em 2008.

O maior mérito do livro é a reconstrução testemunhal da vida de rua do pequeno grupo de crianças nordestinas enjeitadas: do momento de sua saída, ainda na infância, da casa familiar à inserção no meio marginal. A narrativa de Reyes privilegia as dificuldades de sociabilidade das crianças no meio inóspito no qual contam, antes de tudo, com o próprio corpo como meio de sobrevivência e subsistência: na mendicância, nas lutas e na prostituição. O sexo surge ainda na infância, sob a forma de abuso do pai ou padrasto, e se torna a forma privilegiada de oferecer-se aos olhos do outro - adulto, estrangeiro, bem-sucedido - disposto a gozar (em todos os sentidos) de um corpo disponível, e dar a ele algum estatuto no grupo social. O próprio narrador se compraz, em alguns momentos, em colocar o leitor na condição de voyeur.

Nesse sentido, o livro é a narrativa dos corpos, nas diversas descrições de atos sexuais, incestuosos, homossexuais, grupais. Um dos personagens principais da trama é ele próprio um travesti, que procura na metamorfose física uma sorte de identificação consigo mesmo, completude e reconhecimento exterior, nunca encontrados. Interessante o Brasil marginal visto por este olhar, que recusa a síntese, e falado por vozes vacilantes, de destino incerto.

WILSON ALVES-BEZERRA É PROFESSOR DO DEPARTAMENTE DE LETRAS DA UFSCAR, TRADUTOR E AUTOR DE REVERBERAÇÕES DA FRONTEIRA EM HORACIO QUIROGA (HUMANITAS/FAPESP)

26 de julho de 2010

Homossexualidade e abandono são tema de romance em Salvador

 Publicado em Mix Brasil - Cultura GLS

Salvador é cenário para novo livro de Alejandro Reyes sobre homossexualidade e preconceito

A Salvador de todos os santos e desigualdades sociais é o cenário de “A Rainha do Cine Roma”, escrito pelo mexicano Alejandro Reyes-Arias e que conta a história de um menino e uma menina que, desde muito cedo, se deparam com a realidade de que a vida não é um sonho. Nesse caminho, prostituição, homossexualidade, preconceito, AIDS e violência estão sempre presentes.

Uma das finalistas do Prêmio LeYa em 2008, a obra é toda narrada em primeira pessoa por Betinho, que foge de casa para se livrar de um padrasto violento e cai no mundo das ruas para viver de pequenos roubos e programas sexuais. Já de cara o autor traz à tona temas nem sempre abertamente discutidos pela sociedade, assuntos jogados de lado para serem esquecidos.

Mas Alejandro não os esquece e coloca ainda no romance de 296 páginas Maria Aparecida, uma menina que surge na vida de Betinho enquanto ele vaga pela decaída Cidade Baixa. Ela também foge de casa por causa da violência, inclusive sexual. A situação nada boa une os dois com laços fortes o bastante para que eles possam enfrentar essa vida mais do que real.