2 de setembro de 2013

A Leitura das ruas na visão de Reyes, Emicida e Sérgio Vaz


Foto: Tiago Lermen
Último palco de debates teve como tema A leitura das ruas
A periferia é rica em cultura. Sobre isso resumiu bem Ignacio de Loyola Brandão, ao aplaudir o último palco de debates da Jornada formado pelo rapper Emicida, pelo poeta paulista Sérgio Vaz e pelo jornalista e escritor mexicano Alejandro Reyes: “Vocês estão fazendo o que Geraldo Vandré falou; vocês estão fazendo a hora e não esperando acontecer”. Os três convidados comentaram sobre seus processos criativos a partir da realidade das ruas, da vida nas periferias, na difícil realidade de enfrentar o dia a dia sem perder a esperança.
 
Alejandro Reyes nasceu na cidade do México e morou nove anos em Salvador, onde trabalhou com crianças "de rua" e adolescentes da periferia. É mestre em Estudos Latino-Americanos e doutor em Literatura Latino-Americana pela Universidade da Califórnia em Berkeley e publicou Vidas de rua, Contos mexicanos e, neste ano, Vozes dos porões, ensaio sobre o movimento de literatura periférica/marginal no Brasil.

O escritor explicou como ficou impressionado e comovido com a situação das crianças de rua em Salvador: “Mesmo vivendo em condições miseráveis, elas são uma fonte de esperança, têm força, têm luz. Você não consegue se desfazer da própria bagagem para escrever, é utopia. Mas eu quis trabalhar a riqueza dessa linguagem das ruas. Como escritor, dialogar com as periferias. Contei uma história de amor, uma história de exclusão, mas transformei o horror em romance”.

Leandro Roque de Oliveira, conhecido como Emicida, é considerado uma das revelações do hip hop brasileiro. Desde que lançou, em 2009, a primeira mixtape, “Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe”, seu trabalho ganhou força no Brasil e no Exterior, inclusive com duas turnês pelos EUA e duas pela Europa.

Na sua apresentação ele falou da felicidade de estar participando desta Jornada e ver tantos rostos jovens na plateia interessados pela leitura: “Isso precisa acontecer mais vezes em nosso País”, afirmou. Relembrou seu início de carreira, as dificuldades e o sucesso do gênero musical que divulga: “ O rap foi no Brasil o livro de história mais importante para a periferia. Um livro que fala da nossa realidade com respeito. Minha autoestima surgiu a partir do trabalho dos grupos que começaram antes. Só as palavras tocam as pessoas para a realidade do nosso país e é isso que temos que fazer para ter o país que queremos.”

O poeta da periferia e agitador cultural Sérgio Vaz  mora em Taboão da Serra (Grande São Paulo) e vive nas periferias do Brasil. Tem quatro livros publicados e é um dos criadores do Sarau da Cooperifa, evento que transformou um bar na periferia de São Paulo em centro cultural. Lembrou que quando leu a obra Não verás país nenhum, de Loyola, e O ano que não terminou, de Zuenir Ventura, percebeu que não tinha que ter vergonha dos seus escritos e foi à luta.

Inspirado pelas músicas de Taiguara, Gonzaguinha e Vandré encontrou forças para seguir sua vocação e quando leu Cervantes aprendeu que era um sonhador como D. Quixote. “O livro salvou minha vida, levei muito tempo para gostar de viver. E agora minha função é lembrar às pessoas que elas gostam de poesia”, comentou.