Foto: Tiago Lermen |
Último palco de debates teve como tema A leitura das ruas |
A periferia é rica em cultura. Sobre isso resumiu bem Ignacio de Loyola
Brandão, ao aplaudir o último palco de debates da Jornada formado pelo
rapper Emicida, pelo poeta paulista Sérgio Vaz e pelo jornalista e
escritor mexicano Alejandro Reyes: “Vocês estão fazendo o que Geraldo
Vandré falou; vocês estão fazendo a hora e não esperando acontecer”. Os
três convidados comentaram sobre seus processos criativos a partir da
realidade das ruas, da vida nas periferias, na difícil realidade de
enfrentar o dia a dia sem perder a esperança.
Alejandro Reyes nasceu na cidade do México e morou nove anos em
Salvador, onde trabalhou com crianças "de rua" e adolescentes da
periferia. É mestre em Estudos Latino-Americanos e doutor em Literatura
Latino-Americana pela Universidade da Califórnia em Berkeley e publicou Vidas de rua, Contos mexicanos e, neste ano, Vozes dos porões, ensaio sobre o movimento de literatura periférica/marginal no Brasil.
O escritor explicou como ficou impressionado e comovido com a situação
das crianças de rua em Salvador: “Mesmo vivendo em condições miseráveis,
elas são uma fonte de esperança, têm força, têm luz. Você não consegue
se desfazer da própria bagagem para escrever, é utopia. Mas eu quis
trabalhar a riqueza dessa linguagem das ruas. Como escritor, dialogar
com as periferias. Contei uma história de amor, uma história de
exclusão, mas transformei o horror em romance”.
Leandro Roque de Oliveira, conhecido como Emicida, é considerado uma
das revelações do hip hop brasileiro. Desde que lançou, em 2009, a
primeira mixtape, “Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu
Cheguei Longe”, seu trabalho ganhou força no Brasil e no Exterior,
inclusive com duas turnês pelos EUA e duas pela Europa.
Na sua apresentação ele falou da felicidade de estar participando
desta Jornada e ver tantos rostos jovens na plateia interessados pela
leitura: “Isso precisa acontecer mais vezes em nosso País”, afirmou.
Relembrou seu início de carreira, as dificuldades e o sucesso do gênero
musical que divulga: “ O rap foi no Brasil o livro de história mais
importante para a periferia. Um livro que fala da nossa realidade com
respeito. Minha autoestima surgiu a partir do trabalho dos grupos que
começaram antes. Só as palavras tocam as pessoas para a realidade do
nosso país e é isso que temos que fazer para ter o país que queremos.”
O poeta da periferia e agitador cultural Sérgio Vaz mora em Taboão da
Serra (Grande São Paulo) e vive nas periferias do Brasil. Tem quatro
livros publicados e é um dos criadores do Sarau da Cooperifa, evento que
transformou um bar na periferia de São Paulo em centro cultural.
Lembrou que quando leu a obra Não verás país nenhum, de Loyola, e O ano que não terminou, de Zuenir Ventura, percebeu que não tinha que ter vergonha dos seus escritos e foi à luta.
Inspirado pelas músicas de Taiguara, Gonzaguinha e Vandré encontrou
forças para seguir sua vocação e quando leu Cervantes aprendeu que era
um sonhador como D. Quixote. “O livro salvou minha vida, levei muito
tempo para gostar de viver. E agora minha função é lembrar às pessoas
que elas gostam de poesia”, comentou.