Publicado em NEXJOR - Univesidade de Passo Fundo
Alejandro
Reyes nasceu no México, viajou por muito tempo como mochileiro,
conhecendo inúmeros países, até se apaixonar por uma brasileira.
Escritor, tradutor, jornalista e ativista, mudou-se para o Brasil em
1995, onde trabalhou com crianças e adolescentes, principalmente na
cidade de Salvador. Veio daí grande parte – se não toda – da inspiração
para seu primeiro romance, o inusitado “A rainha do cine Roma”, que foi
finalista do prêmio Leya em Portugal e conquistou o prêmio Lipp 2012 no México.
Sobre o livro: você pode conferir a resenha clicando aqui.
Como se deu a construção das personagens do livro “A rainha do Cine Roma”? Elas são reais?
“Na verdade o livro está cheiro de
pedacinhos de histórias. As personagens, nenhuma é uma única pessoa.
Todas as personagens são construídas de diferentes pessoas. A Creuza,
por exemplo, eu conheci uma menina que viveu coisas parecidas. Mas isso é
misturado com histórias de outras crianças, e muito de imaginação.”
Durante a narrativa você brinca com o leitor, conversa com ele, o provoca. Como e por que você decidiu apresentar a narrativa desta maneira?
“Foi um pouco inconsciente, surgiu
assim. Mas no fundo eu acho que tem a ver com essa questão de provocar.
Ou seja, muito do que a gente lê, ou vê no cinema, sobre as questões
mais duras da nossa sociedade, da nossa realidade, muitas vezes elas são
tratadas de uma maneira muito distante. O leitor fica aqui sentado na
sua poltrona confortável, vendo aquilo de longe, e isso é ruim.
Justamente o que a gente quer fazer, o grande potencial da literatura,
particularmente do romance, é quebrar essas barreiras. Nem uma outra
arte consegue entrar na problemática existencial do ser humano.”
Com relação aos moradores de
rua, o que você viu de diferente nas ruas dos Brasil se as compararmos
com as ruas de outros países?
“É muito semelhante. As populações que são mais vulneráveis são as que são mais exploradas.”
O que mais encantou e o que mais chocou você durante as viagens?
“Esse sofrimento das crianças, pra mim, é
o que mais dói. Porque elas não tem um estrutura para se defender, para
resistir àquilo. É uma dilaceração do ser humano. O que mais me encanta
é que nas situações mais duras, mais difíceis, mais pavorosas, vem o
espírito de resistir. Como gente que vive na rua, que todo dia é
esculachado, que todo o dia é tratado como se não existisse e não fosse
gente, conseguem continuar acreditando que são gente e continuar amando e
sendo solidários com o outro.”
Como foi ser finalista do prêmio Leya em Portugal e ganhar o prêmio Lipp no México?
“Pra mim foi muito bacana. Porque escrever é uma atividade muito solitária, e é muito difícil entrar no mercado editorial.”
Pretende lançar novos romances?
“Com certeza. Nesse momento estou
trabalhando em um romance que tem a ver com migração e que acontece um
pouco no México, um pouco nos Estados Unidos e um pouco no Brasil.”
Como jornalista, como você avalia o jornalismo atual?
“O grande problema do jornalismo é que é
uma mercadoria. Para sobreviver, as empresas jornalísticas tem de
vender a informação. Não é mais aquela coisa independente, capaz de ter
um olhar crítico ao que acontece na sociedade. A mídia comercial é parte
do problema. A alternativa à isso, são essas mídias alternativas,
independentes, que não fazem da informação uma mercadoria.”
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