Publicado em: Horas extraordinárias
Brutal!
É o termo para classificar este romance avassalador, tanto no plano
literário pois é uma obra muitíssimo bem concebida e escrita, quanto no
aspecto humano, levando-nos imediatamente para outros nomes e obras dos
Mestres do género: Jorge Amado, José Mauro de Vasconcelos, Vargas Llosa,
Garcia Márquez… acho que só um latino-americano (recordo o cubano Pedro
Juan Gutiérrez) conseguiria de facto escrever assim de forma tão crua e
agressiva, bruta, genuína, (re)criando personagens sacadas à rua e
narrando o que é a realidade das vidas degradadas nas urbes daquele
continente!
Cheguei ao fim deste romance com um nó na garganta e
outro no estômago, confesso que nunca mais olharei para um miúdo com a
caixinha da graxa do mesmo modo, ou mesmo para um travesti… tenho de ser
honesto e coerente com aquilo que o livro ainda despertou nesta carcaça
de homem rude a envelhecer!
Reforça também a minha opinião quanto à
diferença entre o escritor que vive profundamente a realidade e
consegue escreve sobre ela, para outro que ficciona sobre algo que
aflorou ou viu, e, lhe inspira a imaginação. Alejandro Reyes é
jornalista e escritor, académico em estudos e literatura
Latino-Americana, mas sobretudo trabalhou com crianças de rua e
adolescentes, no Brazil.
O que ele descreve e conta é a dura
realidade, é verdade, acontece-mesmo, há gente assim e vidas assim! É
isso o que nos agride por um lado e maravilha por outro, pois ele
consegue apresentar-nos no meio da violência das ruas e do vício,
sentimentos de humanidade, generosos, bons… o que inapelávelmente nos
toca e apaixona.
Num contexto geográfico-social diferente
recordou-me outra obra recente e discreta, que para mim também ficou a
ser de referência pelo tal aspecto humano a que sou sensível: “Entre Cós
e Alpedriz”, do nosso Extraordinário José Catarino, que gravou
igualmente no seu romance a dura realidade duma vida serrana, que se
formos procurar ainda existe e aqui, à nossa porta.
A Rainha do
cine Roma é um grande romance que aconselho vivamente, mas atenção, é
para quem deveras tenha peito como aconselha Pepetela, e, estômago
acrescento eu!
Nenhum comentário:
Postar um comentário